Com uma Multidão no Deserto
Após meses de campanha estressante, o candidato se encheu de orgulho quando ficou de pé diante dos milhares de correligionários. Apenas poucos dias antes da eleição, agora era sem dúvida o auge de sua campanha. As noites sem dormir, as viagens intermináveis e os incontáveis discursos pareciam não importar naquele momento. Ele havia começado a campanha com um grupo pequeno de amigos que tinham as mesmas convicções e a mesma ideologia para um governo melhor. Agora, ele estava num palanque, num enorme estádio municipal, para discursar à multidão de fãs barulhentos e empolgados. A maioria das pessoas não conhecia o candidato pessoalmente, nem estavam muito familiarizados com o seu estilo, seus métodos e a sua filosofia. Quando todos por fim fizeram silêncio e o candidato exuberante começou a falar, ele rapidamente sentiu que um desastre estava prestes a ocorrer. Começou entre os ouvintes um suave murmúrio por causa de uma afirmação do candidato; depois, ficou mais forte e alguns começaram a gritar em oposi'e7ão aos princípios dele. Por fim, abriram-se as portas e os milhares desordenados saíram, deixando o candidato rejeitado com uns poucos amigos leais na amplidão vazia daquele estádio.
O Filho de Deus fez uma campanha espiritual entre um grupo de judeus voltados para a política. Quando começou, não impressionou muito, tendo nascido praticamente na pobreza e sendo criado num lugar como a Galiléia. Quando por fim ele levou o seu ministério ao público, as coisas começaram lentamente a se voltar a seu favor. Ele havia reunido um grupo pequeno de discípulos. Eles tinham uma missão que se limitava à casa de Israel. João Batista conquistou a atenção das multidões ao declarar a vinda do Messias; e foi morto por Herodes. Os rumores e os boatos acerca dos milagres de Jesus tinham chegado aos ouvidos de Herodes, e agora ele queria encontrar Jesus. À medida que Jesus continuava a curar os doentes e as notícias continuavam a se espalhar, as pessoas começaram a afluir para ele.
Quando se aproximou a Páscoa, Jesus e os discípulos se retiraram de Cafarnaum e atravessaram o mar da Galiléia. Retirado no monte, Jesus pôde contemplar através da vasta área do deserto, e o que viu comoveria o coração de qualquer homem S literalmente milhares de judeus, (muitos deles por causa da Páscoa), atravessando o deserto para encontrá-lo (João 6). A casa de Israel finalmente estava mostrando algum sinal de correspondência. Essa reação deve ter parecido magnífica para os discípulos!
Quando Jesus alimentou esses milhares com cinco pães e dois peixinhos, todos ficaram estupefatos. Comeram, fartaram-se e começaram a aclamá-lo rei! Mas Jesus rapidamente se retirou dali e mandou embora os discípulos. Não desincentivada por esse acontecimento, a multidão, ainda com o sabor do peixe e do pão na boca, buscaram-no de novo até encontrá-lo. A popularidade de Jesus tinha chegado ao máximo finalmente, e parecia que não cessariam de vir os seguidores.
Mas agora, no auge da campanha, aconteceu uma reviravolta drástica e repentina. Jesus recusou-se a agradar a multidão de discípulos cuja fome era de pão físico, não espiritual. Rejeitou um exército de soldados que estavam ansiosos para coroá-lo rei político, mas se recusavam a reconhecê-lo como o Filho de Deus e deixá-lo reinar em seus corações. Com ousadia, Jesus declarou a verdade espiritual aos homens de mente carnal, e eles acharam que essa pregação era ofensiva. Os clamores de elogio e adoração apagaram-se, e "muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele" (João 6:66).
Pode se imaginar o efeito sóbrio que tudo isso causou nos Doze, que ha-viam começado a campanha espiritual com poucos discípulos, presenciaram o seu crescimento até chegar a este ajuntamento de milhares e agora mais uma vez se acham sós com o Senhor. Jesus deve ter percebido que ficaram abala-dos. "Vocês também vão embora?", perguntou ele. A resposta deles dependeria não somente de quanto tinham entendido da natureza do reino espiritual, mas de quanto eles confiavam nele. Pedro respondeu pelo grupo leal. "Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus" (João 6:68-69). O entendimento que tinham do "pão da vida" talvez não fosse muito maior que o da multidão desatenta (veja Marcos 6:52), mas certamente eles criam que ele era o Cristo de Deus e estavam dispostos a continuar e aprender mais. Uma fé humilde assim por parte dos poucos agradava mais ao Senhor que o entusiasmo superficial dos milhares que não enxergam além das próprias barrigas.
Os homens carnais ainda podem ser atraídos aos milhares pela comida e pela bebida carnais. Infelizmente, alguns pregadores trocaram o verdadeiro Pão da Vida por salsichas e frangos fritos, para manter uma multidão de seguidores. Mas verdadeiramente abençoados são aqueles discípulos, embora poucos, que depositaram a confiança no Pão do céu, o Santo de Deus.
- por David Thomley